FAPS – Fórum de Atualização em Pesquisas Semióticas
Sexta-feira, 30/04/2021, 14h00, via Google Meet.
Sistema, processo, dialética negativa e quadrado semiótico
por José Américo Bezerra Saraiva (SEMIOCE-UFC)
Partindo da ideia de que a relação “é o metaconceito síntese do epistema estruturalista”, expressa por Edward Lopes em A identidade e a diferença (1997, p. 38), pretendemos promover o elogio do sujeito epistemológico, sujeito do saber, sujeito que opera por encerramento ao categorizar o vivido (GREIMAS e FONTANILLE, Semiótica das paixões, 1993, p. 40), ao criar instâncias conceituais ou, em termos radicalmente saussurianos, ao constituir objetos de estudo.
Se as noções de relação, função (Hjelmslev) e estrutura elementar (Greimas) podem ser aproximadas, como supõe Lopes (1997), a ponto de se as considerar equivalentes, então gostaríamos de postular que esta última, uma vez interpretada como desdobramento do quadrado semiótico e não como sua base geradora, poderia ser entendida como uma representação modelar sintetizante do epistema estruturalista. Nestes termos, a noção de estrutura elementar seria, pela mediação do quadrado semiótico, capaz de não apenas restringir o alcance daquelas outras duas noções mas também conferir-lhes certa organização relacional calcada no processo/movimento típico da dialética negativa, tal como a fez conhecer Hegel: dialética é o “espírito da contradição organizado” e “espírito é a possibilidade de apreensão autorefexiva dos pressupostos que organizam as condições necessárias do saber”. De nossa parte, pensamos que o quadrado semiótico, sobretudo como ele vem descrito no Dicionário de semiótica, faz ressoar esse conceito hegeliano e dá primazia ao sujeito epistemológico num campo do saber sobre a linguagem que se pretende de vocação científica.
Indagamos sobre o papel da estrutura elementar da significação e do quadrado semiótico na construção da teoria e da metodologia da Semiótica Discursiva, uma vez que o quadrado, interpretado como “espírito da contradição organizado”, passaria a ser a base geradora da estrutura elementar da significação. Propomo-nos a mostrar que essa interpretação do quadrado semiótico garante-lhe uma tal centralidade no projeto teórico-metodológico greimasiano que permitiria explicar, relacionando-as, as noções de sistema, processo, língua, discurso, arbitrariedade e adequação dos modelos descritivos, estrutura e acontecimento etc. Ou seja, desejamos destacar não apenas o caráter globalmente hipotético-dedutivo da metodologia semiótica mas também o lugar de destaque que muitas vezes a indução assume num processo organizado por um sujeito epistemológico, sujeito do saber, sujeito operador do encerramento, sujeito categorizador.
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José Américo Bezerra Saraiva graduou-se em Letras (Português-Francês) pela Universidade Federal do Ceará, onde também concluiu os cursos de Mestrado e Doutorado em Linguística. No ano letivo 2017-2018, fez estágio de pós-doutoramento em Semiótica na Université de Limoges-França, sob a supervisão de Jacques Fontanille. É Professor Associado da Universidade Federal do Ceará, lecionando na Graduação em Letras e na Pós-Graduação em Linguística. Coordena o Grupo de Estudos Semióticos da Universidade Federal do Ceará (SEMIOCE). Autor dos livros A identidade de um percurso e o percurso de uma identidade: um estudo semiótico das canções do Pessoal do Ceará (2012), A trama poética em Caetano Veloso (2014) e Exercícios de Semiótica Discursiva (2017), este em parceria com Ricardo Lopes Leite, vem publicando artigos em periódicos nacionais e internacionais e capítulos de livros nas áreas de Semiótica Discursiva e Linguística Teórica.
Sexta-feira, 30 de abril de 2021
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