FAPS - Maio 2018 - Danilo Paiva Ramos

FAPS - Maio/2018

Fórum de Atualização em Pesquisas Semióticas
25/05/2018, 14:00, Prédio de Letras USP, sala 266

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| Danilo Paiva Ramos|

 

Discurso xamânico e contato linguístico no Alto Rio Negro

por Danilo Paiva Ramos (UFBA, Departamento de Antropologia e Etnologia)

Sentados numa roda de coca, benzedores Hupd’äh, Desano e Yuhupdëh conversavam, em língua Tukano, sobre o encantamento para proteger as pessoas durante as viagens ao centro urbano de São Gabriel da Cachoeira. Falantes de línguas diferentes e com competências distintas quanto ao Tukano, os senhores comparavam as palavras xamânicas e as ações verbais que garantiriam a segurança dos navegantes. Habitantes da região do Alto Rio Negro-AM, conhecida pelo multilinguismo e intenso contato entre dezenas de línguas pertencentes às famílias linguísticas Nadëhup, Arawak e Tukano Oriental (Sorensen, 1967), os benzedores evidenciavam o papel do discurso xamânico como propiciador de contato linguístico, transespecífico e interétnico.

O debate sobre o multilinguismo no Alto Rio Negro geralmente enfatiza o papel limitado da mudança de código (code-switching), o baixo nível de empréstimo lexical, a intensa difusão de estruturas gramaticais e a manutenção da diversidade linguística, havendo ainda pouca reflexão sobre o papel do discurso no contato linguístico (Epps & Stenzel 2013, Sorensen, 1967; Thomason and Kaufmann 1988; Aikhenvald, 2002). Entendendo com Bier et al. (2002) que o discurso é a matriz da difusão linguística, e que as formas especializadas de discurso possuem graus variados de convencionalidade, domínio e execução por especialistas, o trabalho atual apresenta uma comparação entre discursos xamânicos Hupd’äh, Desano e Wakuenai. O discurso xamânico apresenta gêneros verbais marcados pela mobilidade sociocósmica e pela tradução de pontos de vista que constituem perspectivas e sujeitos humanos e não humanos em intensa comunicação e interação (Carneiro da Cunha, 1998; Cesarino, 2013; Ramos, 2018). Ancorando-se nas evidências sociohistóricas sobre a mobilidade de xamãs e profetas indígenas pela região através das rotas de florestais (RAMOS & EPPS, 2018), das rotas de Kuway (VIDAL, 2000; HILL, 2011) e das rotas Tukano (Cayon & Chacon, 2014), busca-se estabelecer o contraste entre os padrões formais e temáticos por meio dos quais os benzedores compõem seus enunciados. Pretende-se, assim, delinear os contornos desse gênero discursivo e sua importância para a constituição de um vasto campo de comunicação e interação cross-cultural do Alto Rio Negro.

 

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Danilo Paiva RamosNota bio-bibliográfica

Danilo Paiva Ramos é antropólogo. Professor adjunto A do Dep. Antropologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pós-doutorado em Antropologia Linguística pela Universidade do Texas (2015-2016, BEPE-FAPESP), Pós-Doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) (2014-2017, FAPESP), Doutorado em Antropologia Social (Etnologia indígena) pela USP (2014), mestrado em Antropologia Social (Antropologia Rural) pela USP (2006), Graduação em Ciências Sociais -USP (2003) e licenciatura em Ciências Sociais-USP (2009). É tutor do Programa de Educação Tutorial (PET) Comunidades Indígenas da UFBA. Desenvolve pesquisas em etnologia indígena, com ênfase em estudos sobre xamanismo, discurso e vida ritual. É membro do Centro de Estudos Ameríndios (CESTA/ USP). É pesquisador associado ao projeto Language Contact and Change in the Upper Rio Negro (U.Texas/USP). É membro do Fórum sobre Violações de Direitos dos Povos Indígenas da Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisa e Pós-Graduação (ANDHEP), e do Coletivo de Apoio à Causa Yuhup-Hup (CAPYH). É assessor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) em saúde indígena e da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em assuntos e projetos voltados aos povos Hupd'äh e Yuhupdëh. É assessor do povo Hupd'äh para a construção de seus Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA-Hup).


Sexta-feira, 25 de maio de 2018.
Das 14h00 às 16h00. 
Prédio de Letras USP, sala 266.

O encontro é aberto a todos os interessados. Não é necessário inscrever-se previamente.

 

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